
"Há mulheres altas e mulheres baixas; mulheres bonitas e mulheres feias; mulheres gordas e mulheres magras; mulheres caseiras e mulheres rueiras; mulheres fecundas e mulheres estéreis; mulheres primíparas e mulheres multíparas; mulheres extrovertidas e mulheres inconsúteis; mulheres homófagas e mulheres inapetentes; mulheres suaves e mulheres wagnerianas; mulheres simples e mulheres fatais - mulheres de toda sorte e toda sorte de mulheres no nosso mundo de homens. Mas, do que pouca gente sabe é que há duas categorias antagônicas de mulheres cujo conhecimento é da maior utilidade, de vez que pode ser determinante na relação desses dois sexos que eu, num dia feliz, chamei de "inimigos inseparáveis". São as mulheres "ácidas" e as mulheres "'básicas", qualificação esta tirada à designação coletiva de compostos químicos que, no primeiro caso, são hidrogenados, de sabor azedo; e no segundo, resultam da união dos óxidos com a água e devolvem à tintura do tornassol, previamente avermelhada pelos ácidos, sua primitiva cor azul. Darei exemplos para evitar que os ínscios e levianos, ao se deixarem levar pela mania de classificar, que às vezes resulta de uma teoria paracientífica, cometam injustiças irreparáveis. Pois a verdade é que mulheres que podem parecer em princípio "ácidas", como as louras (conf. com a expressão corrente: "branca azeda" etc.), podem apresentar tipos da maior basicidade. Não é possível haver mulher mais "básica" que Marilyn Monroe, por exemplo, enquanto que Grace Kelly, que muita gente pode tomar por "básica", é a mulher mais cítrica dos dias que correm. Podia-se fazer com Grace Kelly a maior limonada de todos os tempos, e nem todo o açúcar de Cuba seria capaz de adoçá-lo. De um modo geral, a mulher "ácida" é sempre bela, surpreendente mesmo de beleza. É como se a Natureza, em sua eterna sabedoria, procurasse corrigir essa hidrogenação excessiva com predicados que a façam perdoar, senão esquecer pelos homens. Porque uma coisa eu vos digo: é preciso muito conhecimento de química orgânica para poder distinguir uma "básica" ou uma "ácida" pela cara. A mulher "ácida" tem uma consciência intuitiva da sua química, e não é incomum vê-la querer passar por "básica" graças ao uso de maquilagem apropriada e outros disfarces próprios à categoria inimiga. Como um homem prevenido vale por dois, dou aqui, por alto, noções geográficas e fisiológicas dos dois tipos, de modo que não chupe tamarindo aquele que gosta de manga, e vice-versa. A "vol d'oiseau" se pode dizer que as regiões escandinavas, certas regiões balcânicas e a América do Norte são infestadas de mulheres "ácidas", no caso da América, sobretudo o Sul e Middlewest, onde há predominância do tipo "one hundred per cent American". Ingrid Bergman é uma "ácida escandinava" típica e é preciso ir procurar uma Greta Garbo para achar a famosa exceção comum a toda regra. As ilhas Britânicas em si não são "ácidas"; mas há que ter cuidado com certas regiões da Escócia e da Irlanda, onde o limão corre solto. Na França, com exceção de Paris e Île-de-France, e naturalmente de Côte d'Azur, reina uma certa acidez, sobretudo na Bretanha, Alsácia e Normandia. A Itália é "básica", tirando, talvez, o Veneto e a Sicília. Os Países Baixos são o que há de mais "ácido", Flandres ainda mais que a região flamenga. A Alemanha é a base do araque. Há, aí, que ir mais pelo padrão psicofisiológico que pelo geográfico. Desconfie-se, em princípio, de mulheres com muita sarda ou "tache-de-rosseur". Há exceções, é claro, mas vejam só Betty Davis, que é de dar dor na dentina. É bom também andar um pouco precavido com mulheres, louras ou morenas, levemente dentuças. Acidez quase certa. Felizmente, a grande maioria é constituída de "básicas", para bem de todos e felicidade geral da nação. Sobretudo no Brasil, felizmente liberto, desde alguns meses , da sua "ácida número um"- aliás de outras pragas, diga-se, o peito inchado do mais justo orgulho nacional."
.
(Vinícius de Moraes)
4 comentários:
http://tudogostoso.uol.com.br/receita/1621-mousse-de-limao.html
As ácidas que me desculpem, mas ser básica é fundamental?
Sabe, não gosto dessa classificação.
(e não apenas porque já fui sutil e insidiosamente chamada de ácida por um amigo que me apresentou o texto)
Bom, talvez eu sofra de diabetes estética.
Aliás, como diria o pessoal do "Te dou um dado?", Greta Garbo é básica AONDE?
Provavelmente, apenas porque ele gosta dela, deu um jeito de encaixar.
E dá-lhe adoçante!
Entre minhas atrizes preferidas, se revezam básicas e ácidas, afinal, o metabolismo humano requer equilíbrio entre os componentes de suas reações químicas.
No peito das ácidas também bate um coração.
Eu também não entendi a presença da Garbo figurando entre as básicas, mas enfim. Vi essa foto da Monroe e queria um motivo pra postar, acabei lembrando desse texto.
Não acho que ninguém seja totalmente básica nem totalmente ácida, néam, e que essa e todas as outras classificações são meio furadas. Mas de modo geral, eu sou básica, e nem é pra me encaixar na parte boa do texto porque não considero isso uma grande qualidade. Mas nem por isso posso negar meu básica-way-of-life.
E as básicas também corroem. Pelo menos quimicamente falando, soda cáustica tem ph alcalino.
Aliás, acho a Ingrid bem mais básica que a Greta.
Mas também não a classificaria como básica, Ingrid é uma atriz agridoce, pode ser o que quiser.
Essa semana tava passeandinho na Saraiva e vi esse livro: http://www.amazon.com/Greta-Garbo-Cinematic-Mark-Vieira/dp/081095897X
Nem sou especialmente fã da Greta, mas ela tá tããããão linda na capa que até me deu vontade de comprar (não é um livro ótimo pra se ter numa mesa de centro? rs).
(ainda o terei, quando casa tiver)
Adoro esse mistério todo dela, mais que atriz ela era ícone, néam, o que também é zuper válido.
Postar um comentário