quinta-feira, 17 de setembro de 2009
O príncipe
Hoje ouvi uma música e lembrei de você. Hoje estudei, e lembrei de você. Vi jornal, tomei café da manhã, sorri muito e lembrei de você. Ainda não entendi porque em tão pouco tempo já consegui acumular tantas lembranças dentro de mim. Talvez porque o tempo cronológico, os dias do calendário e os ponteiros do relógio não consigam mensurar exatamente o tempo do coração. O que é a passagem do tempo quando se descobre em alguém a sensação tão mágica - e por que não rara? - de conhecer uma nova pessoa de outros tempos? Descobri isso em você. Mas, você descobriu a mesma coisa em mim? No meio de tantas lembranças hoje me veio uma em especial: Maquiavel. Além de ter ficado me perguntando onde mais você encontraria alguém que conversaria sobre ele com você, me lembrei do vulgo. Você sabe o que é vulgo: capaz apenas de se guiar pelas superficialidades. Lembro de ter te alertado sobre como eu era diferente do vulgo, e de ter agradecido em silêncio você também ser. E em silêncio agradeci muita coisa antes, e muita coisa depois. E em silêncio continuo, mas não mais agradeço. Apenas me questiono, me debato, me reviro e principalmente, te reviro por dentro pra tentar entender onde foi que nos perdemos um do outro. Percebi, então, mesmo que custasse a admitir, que somos, eu e você, tão vulgo quanto qualquer uma das pessoas que desprezamos por isso. Somos exatamente aquilo que acreditamos que nunca seríamos: somos incapazes de ver além das aparências, cada um a seu modo. Você é incapaz de abrir mão do que ostenta mais aos olhos dos outros por uma coisa boba, pequena, uma coisa desnecessária e ultrapassada que chamam de amor. Prefere ficar preso à superfície ao invés de ir bem fundo, onde sempre há o risco de não conseguir voltar. Não te recrimino, por muito tempo também preferi à terra firme ao navio e seu possível naufrágio, mas diferentemente de você, depois de descobrir a beleza do alto mar nunca mais valorizei a segurança da areia. E eu, enfim, fiquei presa a sua superficialidade, e à aparência desse possível mas pouco provável projeto de amor. Fiquei envolvida pelo que eu acreditei que você era e que nossa relação seria, e tem algo mais superficial do que se apaixonar pelas suas idéias? Lembrei de um poema do Fernando Pessoa em que ele fala sobre o egoísmo do amor. No amor sexual, buscamos primeiramente o nosso prazer - o do outro costuma ser secundário. E no amor propriamente dito, acabamos nos apaixonando pelo reflexo de nós mesmos na outra pessoa: nos apaixonamos pela idéia que fazemos dela, e o resto é resto. E é isso que somos, meu caro, dois piscianos egoístas e superficiais. Não somos melhores do que nenhum daqueles que julgávamos ser, talvez nem sequer fomos especiais um pro outro. Especial pra mim é alguém que marca, que fica, e não posso negar que você me marcou. E que ainda fica. Mas por quanto tempo? Tantas coisas e tantas pessoas podem te suceder e você se tornar uma lembrança passageira quando novamente ouvir alguma música ou reler Maquiavel. Quanto a você, não posso dizer o que sou na sua vida. Tenho duas vagas idéias: o que eu gostaria de acreditar, e o que eu tenho tentado me convencer. Sendo mais direta, gostaria de acreditar que como já me disseram, eu não sou qualquer uma pra você. Mas repito pra mim mesma a cada lembrança sua - por mais que doa, por mais que cada lembrança boa me sabote - que fui mais uma. Talvez uma mais diferente das outras, mas não sei se o suficiente pra dizer que fui alguém especial. Até porque, não sei o que é ser especial pra você, nem se existem pessoas assim na sua vida. Corro o risco, sei bem disso, de ter vivido uma mentira. Uma curta e linda mentira. Mas pelo menos eu vivi. Pelo menos me entreguei e tive alegria e amor pra te dar. Não tive tanto amor assim, confesso, é muito cedo, você não me deu tempo pra isso. Mas o que eu tinha, era seu.
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