Somos dois tigres levando uma vida de gato

Sonhei que dizia essa frase. Não sei de onde ela saiu, mas disse. E no sonho tudo pareceu coerente. Pelo que entendi e me lembro, estava numa festa com alguém que parecia ser algo mais que um namorado - marido, talvez - e muito angustiada, sentindo como se não fizesse parte daquilo. Parece que ficou subentendido no sonho que eu havia rompido com alguém para ficar com ele, mas não estava dando certo. E no fim da festa, depois que todos foram embora, o suposto ex-amante-atual-marido me disse algo sobre emprego. Comecei a chorar, não lembro muito bem dessa parte, só lembro vagamente do rosto masculino que não conheço (apesar de achar parecido com meu professor de Geografia) também chorando. E então disse essa frase. Silêncio. Mas não foi um silêncio constrangedor como costumam ser os silêncios de rompimento, foi um silêncio cúmplice, como se a frase selasse a vida de gato pra sempre e desse espaço pra vida de tigre, seja lá o que isso significar.
Depois me lembro de voltar à minha casa antiga e encontrar lá uma caixa muito velha e cheia de fotos. Só lembro de uma imagem, um perfil de rapaz que também não conheço sentado contra a luz bebendo café. Rapaz jovem, bonito, com cabelo quase comprido.
Não somos dois tigres, não, sou um só tigre solitário. Levando uma vida de gato, levando uma vida de gato.