sábado, 13 de dezembro de 2008

A vida não foi feita para ser olhada aos olhos totalmente nus, por isso não tire o véu


A idéia inicial era fazer um post com ares de análise séria da microssérie Capitu, como amante de artes, Machado, mulheres da literatura e personagens neuróticos em geral. Mas como sou egocêntrica demais até pra falar do que gosto resolvi, novamente, falar de mim. Se um dia cansarem de tanto pronome eu no mesmo texto e abandonarem meu blog não vou poder fingir que não sei porque. Se bem que não sei ao certo quantas pessoas lêem isso, acredito que poucas, mas sempre fui mais Bentinho que Escobar e nunca me dei bem com números, a matemática me detesta e é recíproco. Vim pra falar, aliás, das minhas semelhanças com Bentinho Santiago. Não tenho namorico com vizinhos nem nenhuma característica semelhante - ou simplesmente comparável - mas o aparecimento de algumas pessoas fez com que eu me sentisse uma espécie de Dom Casmurro fêmea se vendo adolescente a brincar pelo quintal com o vizinho. Sempre tive a tendência e a facilidade de ter laços de amizade mais intensos com pessoas mais velhas por segurança, afeição, interesse, ou qualquer coisa que o valha. Quando nasci era 30 anos mais jovem que meus pais mas aos 18 já me sinto mais velha, por isso me falta um certo tato pra lidar com certas questões normais da juventude, muitas das quais eu talvez tenha mas que jamais admiti. Enfim, voltemos às novas pessoas que andam fazendo parte, ainda que discretamente, da minha vida. São pessoas mais novas, nada muito expressivo, mas são. E mesmo com a pouca diferença de idade me senti uma senhora sem nenhum frescor a olhar crianças brincando, praticamente a velha abandonada pelo noivo de Grandes Esperanças. Brinquei com um amigo depois que me senti quase que como mentora daquelas pessoas, que me ouviam com tanto interesse como se eu falasse verdades irrefutáveis, às vezes entrecortando as minhas frases sem sentido com exclamações do tipo "me identifiquei com você". Fiquei sem saber se avisava que eu podia ser uma companhia agradável e ter certas semelhanças mas que não era, nem deveria ser, um exemplo a ser seguido. Infelizmente tenho certos defeitos gigantes além da mania de falar demais de mim mesma, e um deles é carregar comigo uma amargura disfarçada por achar fardo pesado pra mulherzinha de ainda 18 anos que sou. Fiquei sem saber se avisava que as coisas são um pouco mais difíceis do que parecem, que ser como eu sou não é exatamente divertido, mas fiquei quieta. Um dia eles descobrem sozinhos, ou não. Vai ver, pensei depois, mesmo se achando parecidos comigo não tenham essa amargura e essa tendência dolorida à solidão. Mas o que despertou os sentimentos casmurrianos foi que mesmo com essa preocupação e com o leve descaso que encarei tudo aquilo que me diziam, fiquei saudosita. Não me odeiem se lerem isso um dia, não foi total descaso porque gostei de vocês, não me acho um ser mais evoluído nem nada mas algumas dores adolescentes realmente já deixaram de fazer sentido pra mim. Não duvido do sofrimento de vocês mas já os troquei por outros, mais ou menos doloridos, não vem ao caso.

Caioamente falando, deu vontade de fazer a linha Dama da Noite e dizer abraçando os dois:


"Assim: deixa a vida te lavrar a alma, antes, então a gente conversa. Acordar no meio da tarde, de ressaca, olhar sua cara arrebentada no espelho. Sozinho em casa, sozinho na cidade, sozinho no mundo. Vai doer tanto, menino. Ai, como eu queria tanto agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu seio e te poupar essas futuras dores dilaceradas. Como queria tanto saber poder te avisar: vai pelo caminho da esquerda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha."

Duvido que leiam isso, não vou dizer nada e mesmo que chegasse a falar duvido que me escutassem. Mas vai ser doído se aqueles dois deixarem de ser o que são. São lindos demais, e deveria ser crime a vida ser capaz de destruir tanta beleza junta. Mas destrói...
Eu que o diga.

P.S: Eu amei a microssérie, criei uma relação toda afetiva, chorei no último episódio... Algumas pequenas coisas me incomodaram mas de uma maneira geral achei muito fiel. Chorei no final não de tristeza ou pena do Bentinho, mas por ver tudo que ele era e tudo que ele se tornou por causa da desconfiança. Chorei pela decadência do personagem. E a trilha é incrível. Não tenho mais muito o que dizer agora, mas precisava elogiar de algum jeito, mesmo que pura e simplesmente com um: eu amei.

Um comentário:

Rafael disse...

Bom, se fosse comigo, acho que de início acharia agradável, me sentiria mais experiente e entendido de como funciona a vida. Sentiria até dó deles, pois possivelmente passarão pelos estágios de transformação que a gente passou, que são extremamente dolorosos, comos sabemos. Só não sei se depois de um tempo ficaria apenas saudosista. Acho que teria uma certa inveja pela chance que eles ainda tem de não se tornarem o que nós nos tornamos, tão rapidamente.
Essa coisa meio:
"Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora."