sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A cat can look at a king


" - Gatinho de Cheshire... podia me dizer, por favor, qual é o caminho pra sair daqui?
- Isso depende muito do lugar para onde você quer ir - disse o Gato.
- Não me importa muito onde... - disse Alice.
- Nesse caso não importa por onde você vá - disse o Gato.
- ... contanto que eu chegue a algum lugar - acrescentou Alice como explicação.
- É claro que isso acontecerá - disse o Gato - desde que você ande durante algum tempo.
- Que espécie de gente vive por aqui?
- Naquela direção - disse o Gato, apontando com a pata direita - mora um Chapeleiro. E naquela - acrescentou, levantando a outra pata - mora a Lebre de Março. Visite um ou outro, tanto faz, ambos são loucos.
- Mas eu não quero me encontrar com gente louca - observou Alice.
-Você não pode evitar isso - replicou o gato. Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco. Você é louca.
- Como sabe que eu sou louca? - indagou Alice.
- Deve ser, disse o gato, ou não teria vindo aqui."


Nas férias, entediada, resolvi fazer um daqueles faxinões anuais pra jogar fora tudo de inútil que a gente guardou durante o ano pra dar espaço pras inutilidades dos anos seguintes. Achei perdido o álbum que me deram no ballet quando eu saí, uma espécie de melhores momentos desde que eu entrei lá, com 6 aninhos. Como sempre me deu uma saudade doída até das dores terríveis no pé, dos ensaios de domingo de manhã e da minha terrível experiência como professora (sou a pessoa mais sem didática que conheço). Em muitas fotos tô pura graça e desinibição, no começo bem tortinha e esquisita mas no final, 11 anos depois, deixarei a modéstia de lado pra falar que eu era boa. De repente vi uma foto minha bem rabugenta e fiquei tentando me lembrar porque tava com aquela cara e então fez-se a luz: eu queria ser Alice na apresentação e me barraram. Fiquei indignada na época, "mas a Alice tem 7 anos e meio, igual eu, tia Leila". Draminha-queen juvenil que era, ameaçei desistir dessa vida de privações e repressão do ballet, mas acabei só no bico. Depois acabei fazendo papéis muito mais interessantes como Giselle e Odette e esqueci Alice, mas lembrar disso me fez quase que fazer um bico de novo mas dessa vez não de birra, mas de saudade.
Saudades, infância. Crescer dói mais que qualquer distenção.

Nenhum comentário: