
Meu primeiro contato com Lolita foi a versão do Lyne, de 1997. E talvez isso tenha influenciado a minha opinião, mas prefiro mil vezes essa versão. O Kubrick é muito superior como diretor, mas talvez seja frio e cínico demais pra conseguir filmar um filme como Lolita, apesar de toda essa frieza funcionar muito bem em outros casos. Claro que o livro tem o seu cinismo, mas tem também toda uma sensualidade, melancolia e um desespero que são, pra mim, mais importantes na obra do que o ironia humbertiana - e talvez seja esse o grande problema na transformação de livros em filmes: descobrir o que realmente importa na obra, o que é sempre muito subjetivo. E o Lyne conseguiu captar melhor essa essência, e os atores também. O Jeremy Irons está perfeito no papel (despertando em mim uma série de coisas estranhas que é melhor deixar pra lá) e a Dominique é muito mais infantil e sensual (resumindo: nínfica) do que Dolores do Kubrick. O fato é que esse filme mudou a minha vida de uma maneira estranha. Não que eu tenha saído por aí de meia soquete e batom borrrado provocando coroas de blazer e olhar perdido, mas eu fiquei encantada e intrigada demais com o filme. Acredito que devia ter 14 anos na época e me lembro de ter saído no outro dia, apressada, para comprar o livro. Já perdi a conta de quantas vezes li, chegando ao cúmulo de terminar e recomeçar no mesmo dia. Personagens deprimidos, entregues, decadentes e submissos me deixam obcecada, fazer o quê?! Tive medo no começo de estar meio cega sobre o H.H., que apesar de toda a paixão não deixa de ser um pedófilo, e talvez isso seja influência direta do filme do Lyne, já que lá isso não fica bem claro. Depois de um tempo, fui sacando melhor isso tudo. Humbert Humbert pode ser fascinante (e é!) mas não deixa de ser um pedófilo.
"Mesmo assim, bastaria ver a tua cara pálida e bonita, bastaria ouvir o som da tua voz jovem e rouca para eu enlouquecer de ternura, minha Lolita."
3 comentários:
Eu li "Lolita" esse ano e é um dos melhores livros que li na vida.
Também gosto muito do filme do Lyne e não gosto do do Kubrick, você sabe.
E, sei lá, nem acho que foi só o enfoque, o HH tem um humor negro auto-destrutivo delicioso, mas isso também não funciona no filme do Kubrick, a única coisa que eu gosto no filme dele é a abertura, depois desanda.
Ao contrário de você, nunca me senti atraída pelo HH, lendo o livro e vendo o filme, ele só me provoca pena.
Veja "O Amante", do Jean-Jacques Annaud (e, de preferência, leia também o livro da Duras), é a estória (autobiográfica, afinal, a Duras só sabia escrever sobre ela mesma) de uma menina francesa, de uns 15 anos, que se envolve com um homem mais velho, numa das colônias francesas, mas sem esses tabus pedófilos.
Bruna,
eu também vi "Lolita" do Lyne com 14 anos (1998), no cinema, duas vezes. Vi a versão do Kubrick em 2001.
Tenho a mesmíssima opinião que a sua. Na época do lançamento da versão do Lyne, arrastei uma amiga para ver comigo no cinema, e ela não saiu empolgada com o filme... foi uma enorme decepção para mim. E, de repente, comecei me achar estranha por gostar tanto do HH, assim como vc. E assim como vc tb, "descobrir" mais tarde q na verdade ele é um pedófilo como outro qualquer, apenas romantizado nas telas.
Beijo!
concordo com o primeiro post, eu super me emocionei com a abertura do filme, fiquei fascinado. uma pena, por que depois não achei tudo aquilo.
a lolita do kubrick é evidentemente mais maldosa que o cara de 37 anos, é fria e não mostra infantilidade nenhuma. acho que o kubrick deveria ter ficado só em ficção científica e filmes violentos.
delicadeza não é com ele.
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